Terapia não viral da vacina de DNA Aβ contra a doença de Alzheimer: Efeitos a longo prazo e segurança.
A doença de Alzheimer é uma doença crônica, neurodegenerativa, conhecida como uma das causas mais comuns do dano progressivo causado na memória e na função cognitiva de pessoas de idade avançada. Vários estudos indicam que a etiologia desta doença é o resultado de uma descompensação entre a produção e a liberação da proteína β- amilóide (Aβ), segundo a hipótese da cascata do amilóide. Na tentativa de apresentar uma terapia eficaz ao combate da doença de Alzheimer, várias tecnologias vêm sendo testadas. Schenk e colaboradores desenvolveram, em meados de 1999, uma vacina Aβ-peptídica e demonstraram uma sensível redução dos depósitos de amilóide no cérebro de ratos transgênicos. Paralelamente, Weiner e colaboradores (2000) fizeram repetidas administrações intranasais do peptídeo Aβ e do seu adjuvante, enquanto que Bard e colaboradores (2000) realizaram a transferência passiva de anticorpos anti-Aβ. Essas duas metodologias fizeram com que os depósitos de amilóide se apresentassem diminuídos no cérebro de modelos animais. Os ratos vacinados também mostraram uma melhora em relação à perda de memória. Com estes resultados promissores, testes em humanos começaram a ser realizado. No entanto, o estudo foi interrompido na segunda fase devido o desenvolvimento de meningoencefalites agudas nos pacientes que estavam sendo vacinados. Posteriormente, foi demonstrado, através de autópsia, uma significativa redução da deposição de amilóide e o desaparecimento de axônios degenerativos em pacientes que haviam sido tratados. Tais achados sugerem que a terapia vacinal é uma estratégia promissora para o tratamento da doença de Alzheimer, caso as reações imunes fossem minimizadas, evitando uma neuroinflamação indesejada. Recentemente, foi demonstrado que DNAs plasmidiais ‘nus’ codificam algumas proteínas que são levadas para dentro da célula e produzem outras, em pequena quantidade, por um período longo relativo quando injetadas dentro do músculo ou da pele. Dessa forma, as proteínas que são liberadas no espaço intracelular induzem a resposta imunológica. Assim, uma suave reação imune pode ser obtida através da administração da vacina de DNA. Vários estudos têm demonstrado que terapias com vacinas de DNA são efetivas na prevenção de doenças mesmo sem o uso de adjuvantes. Neste contexto, um estudo proposto pelo grupo de Okura et al. (2006), desenvolveu três tipos de vacinas de DNA Aβ, não viral, usando um vetor de expressão típico de mamíferos, o pTarget. A diferença entre os tipos de vacina é que a primeira contém somente a seqüência Aβ1-42 juntamente com a seqüência Kozak na extremidade 5´(referência a vacina K- Aβ), a segunda continha uma seqüência sinal (Igk) de rato, com o intuito de promover um aumento na sua capacidade de secreção (vacina IgL- Aβ), e a terceira possuía a porção Fc da Ig humana na extremidade 3´ para manter a estabilidade (vacina Aβ-Fc). Após a administração in vivo, as vacinas de DNA foram transfectadas para células HEK295T e a secreção dos peptídeos Aβ1-42 no sobrenadante da cultura foi avaliada por Westend Blotting. A produção dos peptídeos intracelulares Aβ1-42 foi confirmada, em todas as vacinas, pelo ensaio imunológico ELISA. Dois tipos de protocolos foram adotados pelos autores para avaliar o efeito da vacina de DNA Aβ; um profilático e outro terapêutico. No modelo profilático, as vacinas foram administradas aos ratos tratados (APP23) a partir do 3º ou 4º mês de vida, antes do aparecimento da deposição das placas amilóides. Aos sete meses de idade, deposições amilóides granulares foram observadas no córtex frontal dos grupos-controle. Nesta idade, as placas Aβ ainda não são detectadas no hipocampo. No entanto, nos ratos tratados com as vacinas Aβ-Fc, IgL-Aβ e Aβ, as deposições corticais de amilóide mostraram-se significativamente reduzidas (P<0.01). A carga de Aβ foi reduzida a aproximadamente 15-30% dos grupos-controle. Aos 12 meses de idade as deposições de amilóide começaram a aumentar nos ratos não tratados, tornando-se, em alguns casos, altamente disseminadas. No modelo terapêutico, as vacinas foram administradas aos ratos tratados a partir do 12º mês de vida, após o aparecimento das placas amilóides. Neste caso, os tratamentos com Aβ-Fc e IgL-Aβ foram significantes, pois os depósitos amilóides corticais foram reduzidos (P<0.01) quando observados aos 15 meses. Embora o protocolo terapêutico aparente ser menos eficaz que o profilático, as diferenças observadas não foram significativas. No caso de tratamento com vacinas, as aplicações clínicas devem ser consideradas. Um dos fatores críticos a ser observado é o efeito dessas vacinas em aplicações terapêuticas. No estudo relatado, as placas amilóides foram significativamente reduzidas tanto no córtex cerebral, quanto no hipocampo dos ratos tratados por dois tipos de vacina diferentes, a Aβ-Fc e IgL-Aβ, quando comparadas ao grupo-controle. Dessa forma, Okura e colaboradores conseguiram desenvolver uma vacina de DNA Aβ, não viral, capaz de reduzir o conteúdo de amilóide no córtex cerebral e no hipocampo de modelos de ratos com doença de Alzheimer. No entanto, o mais importante neste estudo é que os efeitos paralelos, normalmente presentes, como a proliferação de células T e a neuroinflamação, não foram observados, mesmo depois da administração das vacinas em longo prazo, tanto em ratos tratados quanto nos controles. Sinopse preparada por: Carolina Rodrigues de Almeida Fontes: - Okura, Y., Miyakoshi, A., Kohyama, K., Park, I., Staufenbel, M., and Matsumoto, Y. Nonviral Aβ DNA vaccine therapy against Alzheimer´s disease: Long-term effects and safety. PNAS 2006, 13 (25): 9619-9624. - Bard, F., Cannon, C., Barbour, R., Burke, R.L., Games, D., Grajeda, H., Guido, T., Hu, K., Huang, J., Johnson-Wood, K., Khan, K., Kholodenko, D., Lee, M., Lieberburg, I., Motter, R., Nguyen, M., Soriano, F., Vasquez, N., Weiss, K., Welch, B., Seubert, P., - Schenk, D., Yednock, T. Peripherally administered antibodies against amyloid beta-peptide enter the central nervous system and reduce pathology in a mouse model of Alzheimer disease. Nat Med. 2000, 6(8):916-9. - Hardy, J. & Selkoe, D.J. The amyloid hypothesis of Alzheimer's disease: progress and problems on the road to therapeutics. Science 2002, 297(5580):353-6. - Schenk, D., Barbour, R., Dunn, W., Gordon, G., Grajeda, H., Guido, T., Hu, K., Huang, J., Johnson-Wood, K., Khan, K., Kholodenko, D., Lee, M., Liao, Z., Lieberburg, I., Motter, R., Mutter, L., Soriano, F., Shopp, G., Vasquez, N., Vandevert, C., Walker, S., Wogulis, M., Yednock, T., Games, D., Seubert, P. Immunization with amyloid-beta attenuates Alzheimer-disease-like pathology in the PDAPP mouse. Nature 1999, 400(6740):173-7. - Selkoe, D.J. & Schenk, D. Alzheimer's disease: molecular understanding predicts amyloid-based therapeutics. Annu Rev Pharmacol Toxicol. 2003, 43:545-84. - Weiner, H.L., Lemere, C.A., Maron, R., Spooner, E.T., Grenfell, T.J., Mori, C., Issazadeh, S., Hancock, W.W., Selkoe, D.J. Nasal administration of amyloid-beta peptide decreases cerebral amyloid burden in a mouse model of Alzheimer's disease. Ann Neurol. 2000, 48(4):567-79. |
Fonte: neurociencia.org